Rejane Tamoto

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Como me planejar financeiramente pelos próximos 15 anos? O que devo levar em consideração?

Para responder essa pergunta, o leitor terá de fazer outros questionamentos a respeito do que espera para a vida nos próximos 15 anos. O planejamento financeiro deve estar conectado aos objetivos para cada ciclo da vida.

Um casal com filhos pode ter uma série de planos até que eles se formem ou alcancem a independência financeira. Quem está perto de se aposentar também consegue projetar a vida depois dessa mudança. Estará morando no mesmo imóvel? Pretende fazer outro tipo de trabalho?

Dependendo do momento de vida e de como cada um projeta o futuro, pode ser mais fácil ou desafiador responder essas perguntas. Já conversei com clientes que sabiam bem onde queriam estar em 10 anos. Mas também já encontrei quem não sabia.

Afinal, vivemos em um país no qual ainda há muita dificuldade de se pensar em prazos longos. Ainda carregamos a memória da inflação, que assolava a economia até o Plano Real e fazia o dinheiro perder valor rapidamente. A economia estabilizou-se nas últimas décadas, mas temos muito a desenvolver quando o assunto é ter uma visão de longo prazo.

Quando converso com clientes, identificamos projetos para etapas diferentes da vida: em dois, três, quatro, cinco, seis anos. Sem nunca esquecer o mais longo prazo: a construção da reserva para conquistar a independência financeira na aposentadoria.

É importante responder:

·         Quais são seus objetivos?
·         Qual o valor de cada um deles?
·         Quais os prazos para concretizá-los?

Com essas informações, é possível calcular quanto economizar por mês para alcançar os montantes necessários para cada objetivo. Diante disso, é preciso verificar sua capacidade de poupança. Se for menor do que o necessário, será preciso fazer a gestão do orçamento, levantando receitas e despesas para definir como economizará para investir. Com esses dados, poderá decidir que gastos reduzir e que receitas aumentar para que o ato de poupar seja frequente.

Ajustada a sua capacidade com a necessidade de poupar, torna-se importante determinar o retorno que você precisará ter em investimentos para que os seus recursos cresçam na medida certa dentro de cada prazo.

É importante lembrar que o planejamento financeiro de longo prazo abre a possibilidade de obter maior retorno, pois ter mais tempo nos permite assumir um pouco mais de risco. É claro que dentro dos padrões do perfil de cada um (suitability).

O investimento de longo prazo nos permite também ganhar em outra ponta, pagando menos impostos. Ter em mente os prazos para cada projeto nos próximos 15 anos ajuda a construir a diversificação necessária para realizá-los.

Planejar o longo prazo traz segurança para colocar os sonhos em prática, mas não basta elaborar uma boa política de investimentos e gestão de ativos. É preciso monitorar os impactos das de mudanças políticas econômicas estruturais para os seus investimentos, e como isso se encaixa com as expectativas que você tinha.

Em um intervalo de 15 anos, é natural fazer alguma mudança na alocação. Além disso, é importante reavaliar os objetivos, de forma a ajustá-los ao plano financeiro. O recomendável é essas revisões sejam anuais.

Por mais projetos que você planeje realizar, o principal deles deve ser garantir a independência financeira no momento que você mais precisará dela: a aposentadoria. Constituir e alimentar essa reserva é o que vai manter a sua qualidade de vida para além dos 15 anos. Ela deve ser feita paralelamente a todos os outros objetivos, durante os diferentes momentos de vida e não deverá ser desviada de sua finalidade.

Importante: uma parcela do patrimônio deve sempre estar em liquidez (aplicações de rápido resgate) para compor o colchão financeiro. É um dinheiro que pode atender a necessidades emergenciais, mas também ser usado para aproveitar alguma oportunidade que surgir ao longo do tempo.

Para proteger os seus planos e garantir que sejam concretizados, será preciso avaliar os riscos e considerar a contratação de seguros. Mensure o quanto o patrimônio e a renda podem ser impactados por tais riscos. Nesse sentido, os principais seguros de proteção pessoal e familiar são os de vida, com cobertura para morte, invalidez, incapacidade, doenças graves; o de acidentes; saúde e responsabilidade civil. Para cada pessoa pode haver uma necessidade, como a contratação de cobertura em relação à perda de renda, à quitação de crédito e financiamento (habitacional e prestamista), além da proteção de bens patrimoniais (residencial e automóvel).

Texto publicado no site Época Negócios em 04 de junho de 2019 e no site Planejar em 13 de junho de 2019.

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4 medidas para proteger suas finanças da inflação

Há alguns meses assistia a uma novela antiga, do fim da década de 1980, um típico “programa de pandemia”, quando observei um diálogo sobre como os preços nos supermercados estavam pela “hora da morte”. Esse é um diálogo corriqueiro em várias obras do gênero. É que a novela da inflação, vira e mexe se repete.

É claro que ela não é mais tão forte como nos 80 e passou a ter um pouco mais estabilidade nas últimas décadas, após o Plano Real. Mas em um ano ou outro ela nos relembra sobre quão é resistente, feito um dragão. Na pandemia não foi diferente. Os preços de alimentos, gasolina e, agora, da energia subiram, e por serem itens essenciais, reduzem o poder de compra das famílias.

O índice de inflação em maio foi de 0,83% – a maior taxa para este mesmo mês desde 1996. Nos últimos 12 meses, subiu 8,06%, o que corroeu não só a capacidade de consumo, mas também o poder de compra do dinheiro que está em aplicações financeiras e que renderam menos que esse percentual. Se os rendimentos não acompanharam a inflação, o recurso pode não ser suficiente para comprar o que gostaria no futuro.

Por isso, quando o assunto é a inflação no planejamento financeiro das famílias, é importante adotar uma série de medidas, que passam não só pela revisão das aplicações, mas também por controle do orçamento e por uma atenção extra ao comportamento de consumo. Selecionei quatro delas.

1- Descubra qual é a sua inflação pessoal

O índice de inflação oficial no Brasil, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), registra a cada mês o aumento de preços de uma cesta de consumo de famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos, em dez regiões metropolitanas, além de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e Brasília. É um índice amplo, que serve como base sobre o quanto o poder de compra pode ser afetado por altas.

Mas nem sempre reflete a realidade do orçamento de uma pessoa ou de uma família em específico, já que cada qual tem suas particularidades. Por isso, o controle financeiro dos gastos, com anotações mês a mês, permite entender o quanto a despesa pessoal foi afetada pelos aumentos nos preços. Montar um fluxo de caixa, com anotação mensal de recebimentos e despesas por categorias, permite fazer um orçamento e acompanhar onde estão os gargalos e tomar medidas específicas sobre eles.

 

2- Substituir é um clássico que dá certo

Quando há controle financeiro, é possível saber onde a inflação está atingindo o orçamento e, com isso, tomar medidas. A mais clássica que os economistas recomendam é a substituição de marcas de produtos, ou mesmo por outras categorias, para fugir de preços temporariamente elevados. É o famoso trocar arroz por macarrão ou carne por frango, dependendo da época. Quando se trata de alimentação, vale usar a criatividade e quem costuma fazer um cardápio pode ter mais facilidade para fazer trocas interessantes de alimentos, preferindo os da estação.

As substituições também valem para serviços como planos de saúde, seguros, planos de TV por assinatura, internet e celular. Olhar para a concorrência todo ano pode até fazer com que o tipo de serviço melhore a um preço menor. É claro que o consumidor deve analisar bem essa decisão, para evitar que uma eventual carência no plano de saúde traga impactos negativos. Mas quando feita de forma sistemática e organizada, a substituição é uma grande aliada do orçamento.

3- Racionalize o consumo

Se não está no ambiente, apague a luz. Quem nunca ouviu a frase da mãe, tia ou avó? Sim, o uso racional dos recursos é outro aliado para segurar o preço de tarifas. Vale para o consumo de água, gás e compras de forma geral.

Quando a inflação foi um mal constante no país, era muito comum ver famílias lotando carrinhos nos supermercados para estocar comida, pois os preços subiam numa velocidade impressionante. Hoje isso não faz tanto sentido. Por essa razão, sempre vale olhar para a despensa e comprar apenas o que vai realmente cozinhar e consumir. Até porque convivemos com as entregas de comida pronta, e já observei muitas pessoas enchendo a despensa para depois fazer vários pedidos de delivery. Costumo dizer que guardam dinheiro na despensa.

Racionalizar implica prestar atenção ao comportamento de consumo. Se preparar os alimentos dá preguiça, é melhor não fazer muitas compras no supermercado. Ou se deseja mudar esse hábito, crie estratégias fáceis para usar o que tem no armário e geladeira e reduzir os pedidos de comida pronta. É uma escolha.

O consumo torna-se racional também quando é possível evitar os comportamentos que afetam os preços, como o de manada. Isso porque o aumento de preços é causado pela procura muito alta de um determinado bem ou serviço que não estava preparado para isso. É claro que a pandemia forçou muitas famílias a reformar casas para adaptar uma moradia a um espaço de trabalho e de estudo para crianças. Os preços de materiais de construção e de mão de obra subiram bastante por esse movimento e pelo aquecimento de novas construções, que continuaram a todo vapor. Racionalizar, nesse caso, é fazer as mudanças necessárias e deixar o que for possível para depois que essa onda passar. Porque ela passa.

4- Invista olhando para o indicador certo

A maior parte desse artigo foi sobre como proteger o seu dinheiro hoje, mas não podemos permitir que a inflação reduza o poder de compra dele no futuro.

Para isso, é necessário buscar um rendimento na carteira de investimentos acima da inflação, sem um risco tão elevado, que não possa ser suportado na carteira de investimentos. Em outras palavras, que esteja dentro do perfil de risco.

A melhor forma de investir é determinando objetivos e prazos para os recursos e manter uma reserva em baixo risco para cobrir imprevistos, porque eles acontecem. É muito importante também investir para ter liberdade financeira na aposentadoria. E se o valor investido para os projetos no médio prazo e no longo prazo não estiver acompanhando a inflação e, de preferência, entregando um retorno superior, é possível que não consiga lá na frente comprar as mesmas coisas que consegue hoje ou ter a renda necessária para o futuro.

É comum observar sempre o rendimento comparado ao CDI, que é a taxa de referência para os investimentos, e que está negativa se comparada à inflação. Por isso, o ideal é olhar para o indicador certo, buscar gestão profissional de investimentos para fazer correções e proteger os projetos do futuro que, neste momento, já podem estar na mira da inflação.

 

Rejane Tamoto é planejadora financeira CFP®, jornalista e sócia da FIDUC. Voluntária na Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros-, tem como missão transformar positivamente a vida financeira das pessoas e contribuir para o crescimento dessa profissão no país.

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Minimalismo: quando menos é mais tempo e dinheiro

O movimento que defende que viver mais com menos traz qualidade de vida vem sendo cada vez mais propagado nos últimos cinco anos. No serviço de streaming Netflix estão disponíveis dois documentários sobre o assunto. Muito associado ao ato de consumir menos e no que realmente é importante e traz satisfação, o minimalismo pode ir além da economia de dinheiro nas compras.

Também pode ajudar a poupar um recurso que é cada vez mais escasso no cotidiano das pessoas, mesmo em tempos de pandemia: tempo e atenção.

A forma como administramos o tempo é tão valiosa quanto a forma que controlamos os recursos financeiros. No conceito minimalista, o excesso de objetos, que geralmente são comprados para preencher outros vazios na vida, demandam mais tempo para organizar em armários e, mais adiante, para selecionar os que devem ficar ou não.

Não apenas coisas, mas também o excesso de cartões de crédito e contas em bancos, corretoras e relacionamentos com instituições financeiras podem consumir bastante tempo em dois momentos importantes.

Um deles é na hora de declarar o Imposto de Renda. Gasta-se tempo para reunir os documentos, e atenção na hora de preencher e conferir para ver se os dados estão corretos. Uma das principais causas que levam o contribuinte à malha fina, segundo especialistas, é exatamente a digitação de dados incorretos.

Se há muitas informações causando uma insegurança para a pessoa que deveria preencher, em vez de tempo, será preciso gastar dinheiro para contratar um profissional ou outro investimento que reduza um pouco esse trabalho, como o certificado digital.

Neste ano, a Receita Federal colocou à disposição um projeto piloto de declaração pré-preenchida, que vem com dados previamente digitados, e deve ser feita online e pelo acesso Gov.br. Mesmo quem utiliza certificado digital ou a declaração pré-preenchida deve conferir as informações que constam de forma automática com os informes, para garantir que não será necessário fazer a retificação e, pior, não cair na malha fina.

O segundo momento em que o excesso de cartões e contas pode consumir bastante tempo é na organização financeira.

Para ter as rédeas das finanças por meio de um fluxo de caixa e orçamento, será necessário categorizar as despesas dos extratos e faturas. Esse processo é, muitas vezes revelador para quem acumula contas bancárias e cartões. É comum que as pessoas encontrem tarifas que nem faziam ideia que pagavam, pois simplesmente nunca pararam para consolidar esses relacionamentos com instituições financeiras.

Não defendo, porém, que o minimalismo deixe a pessoa acomodada aos relacionamentos bancários que tem. É importante conhecer o que o mercado oferece, experimentar, pois só assim encontrará alternativas melhores e que fazem mais sentido para o momento de vida atual. A proposta é escolher as que vão ficar.

Uma forma bem interessante de descobrir em quantas instituições o nome está cadastrado é por meio do Registrato, do Banco Central, um sistema que mostra quanto há em cada conta, quanto foi gasto em cada cartão de crédito e qual o nível de endividamento. Esse sistema também é uma excelente maneira de verificar se o nome pode estar sendo usado por outra pessoa, em alguma instituição.

O minimalismo que proponho não é só o que elimina quinquilharias e objetos que não trazem mais satisfação. Também está relacionado ao tempo e atenção para as finanças, que começam pela escolha de relacionamentos alinhados ao propósito de cada um.

Rejane Tamoto é planejadora financeira CFP®, jornalista e sócia da FIDUC. Voluntária na Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros-, tem como missão transformar positivamente a vida financeira das pessoas e contribuir para o crescimento dessa profissão no país.

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Não existe amanhã para tirar resoluções financeiras do papel

O ano virou, a vacinação começou, janeiro passou voando e não vai ter Carnaval. O que tudo isso indica? Que 2021 já está acontecendo e não temos que esperar a folia passar para que o ano realmente comece no Brasil, como sempre foi.

Se você entrou em 2021 com uma lista de desejos para tirar do papel, é bom olhar o que se transformou em realidade e o que está perto de sair da lista de intenções. Se se trata de uma tarefa, pode ser mais fácil você já ter concluído. Mas e se esse desejo estiver relacionado à uma mudança de hábito desafiadora?

Nesse caso vale prestar atenção ao que diz a psicologia econômica. A premissa é que usamos regras de bolso ou atalhos mentais para tomar a maior parte das decisões no dia a dia. São justificativas racionais que o nosso cérebro cria para explicar desejos e atitudes que tomamos baseadas em emoções. Então, na hora de agir, usamos as regras de bolso para tomar decisões, que simplificam a forma como avaliamos as informações.

E uma regra de bolso bem interessante quando se trata de começo de ano se chama “crença infundada na capacidade e no autocontrole futuros”.

O nome é comprido, mas significa o seguinte: você decide começar a guardar dinheiro e a investir no dia 02 de janeiro porque agora, em dezembro, não está conseguindo.  Quando chega esse dia, você não faz nada porque algo aconteceu ou você esqueceu.

Ou seja, quando você deixa para agir no futuro, acaba sabotando a realização de um objetivo. É um tipo de pegadinha que criamos para nós mesmos, e que a professora de Psicologia Econômica Vera Rita de Mello Ferreira explica mais nesse vídeo.

Então é preciso prestar atenção em quanto você está adiando uma tarefa difícil, mas muito importante para a realização do seu objetivo.  Pode ser desde guardar dinheiro e investir, ou mesmo revisar o orçamento para saber para onde o dinheiro está indo.

O melhor antídoto contra essa pegadinha é agir agora, sem titubear. Ah, mas hoje é terça-feira, melhor começar na segunda? Não, comece hoje mesmo.

Desde que fiz o curso com a professora Vera Rita e comecei a estudar mais sobre o assunto, tirei muitos objetivos do papel seguindo a lógica de não confiar no autocontrole futuro. Então começo mesmo dietas no sábado, e já me matriculei na academia no dia 27 de dezembro – a qual nunca mais abandonei, a não ser pelas restrições da pandemia.

Não marcar data para iniciar algo que está difícil de começar é o segredo. Então se tem algo que você ainda não fez para tirar um plano financeiro do papel, aproveite essa dica e faça agora. Se não sabe por onde começar, converse com um planejador financeiro para ter em mãos um plano de ação. E não espere o dinheiro sobrar para investir em você, separe-o agora, no começo do mês e dê o primeiro passo na direção dos seus objetivos.

Rejane Tamoto é planejadora financeira CFP®, jornalista e sócia da FIDUC. Voluntária na Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros-, tem como missão transformar positivamente a vida financeira das pessoas e contribuir para o crescimento dessa profissão no país.

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Do jogo para as finanças: o que aprender com O Gambito da Rainha

Uma das minisséries mais assistidas da Netflix em 2020, com audiência superior a 62 milhões de views nas primeiras quatro semanas de lançamento, O Gambito da Rainha também traz insights que podemos extrair do xadrez na hora de tomar decisões financeiras.

Bem avaliada por reproduzir com fidelidade os jogos, a série também atrai pela produção e atuação de Anya-Taylor Joy no papel da garota prodígio Beth Harmon, que aprende a jogar no orfanato e sonha ser supercampeã. A série prende atenção do início ao fim e emociona por ser uma história de superação da personagem, também viciada em calmantes e álcool.

Tudo acontece em apenas sete episódios. Se não aproveitou o recesso para assistir, aviso que o texto a seguir contém spoilers.

 1- Considere diferentes cenários

No xadrez é necessário considerar diferentes possibilidades no jogo e tentar prever os passos do seu oponente. Isso é mostrado com riqueza de detalhes na minissérie, tanto que a protagonista se torna famosa por desbancar os adversários ao surpreendê-los no jogo.

Em um plano financeiro, também é necessário considerar diferentes cenários e pensar no que fazer diante deles. É o que o dito popular chama de plano B, importante para atravessar momentos difíceis, como o da pandemia.  No planejamento financeiro, também chamamos isso de gestão de riscos, ou seja, a proteção de objetivos financeiros diante da possibilidade de eventos inesperados.

2- Para se desenvolver, revise o que foi feito e planeje

Na psicologia econômica, aprendi que registrar decisões e olhar para elas depois de um tempo nos ajuda a enxergar onde erramos. Assim, podemos evitar repetir o mesmo equívoco no futuro. Beth e outros jogadores na trama abriam mão de horas de descanso, após um dia inteiro de campeonato, para revisar os jogos feitos e planejar como o fariam no dia seguinte, para evitar os mesmos erros.

Ter um plano, no jogo e nas finanças, com certeza pode te colocar um passo à frente. Afinal, mais do que evitar repetir equívocos, ter planos para a utilização do seu dinheiro faz você perder menos tempo e ajuda a escolher a melhor estratégia de investimentos que precisa adotar.

3- Confiança excessiva e tentações atrapalham. E muito

No momento em que a protagonista da série tem a chance de realizar o sonho de ganhar do maior jogador do mundo, escorrega porque cede a tentação de badalar em Paris com uma amiga. Juntou o vício em álcool com a confiança de que, na manhã seguinte, estaria 100% pronta para enfrentar o jogo mais difícil da sua vida. Com o dinheiro, isso também acontece.

Às vezes foi feito um esforço para poupar, e surge a tentação de gastar em algo que não estava planejado. Junto com isso, a confiança de que conseguirá facilmente acumular novamente. São decisões que, com certeza, podem desviar a pessoa de conquistar seu principal objetivo.

4- Duas (ou mais) cabeças sempre pensarão melhor do que uma

Quando Beth decide passar uma temporada em Nova York para treinar jogos de xadrez com seu crush, começamos a entender que o sucesso no jogo também depende de coletividade. É dessa forma que a minissérie explica porque os russos são tão feras nesse esporte: eles reúnem muitas pessoas para revisar, refazer e pensar em jogos para o campeão deles. Unidos, acabam sendo mais fortes que os norte-americanos, que costumam ser mais individualistas. Quando Beth cria esse coletivo, ela consegue alcançar o nível do oponente.

Com as decisões financeiras, essa lei também se aplica. Conversar com a família, contratar especialistas que podem apoiar suas decisões, colocando seus interesses em primeiro lugar, com certeza farão da sua estratégia financeira vencedora. A dica é conversar sobre esse assunto dentro da sua perspectiva e suas necessidades, e não tomar decisões só baseadas em pesquisas na internet.

5- Saiba a hora de abandonar o que não deu certo

O xadrez é um jogo intelectual, de persistência e regras claras. O xeque-mate indica o fim da partida. É quando o rei é atacado e não tem como se locomover, ou seja, não há alternativas de movimentação. Embora a jogada seja o objetivo de cada parte, o mais comum, como mostra a série, é abandonar a partida assim que o jogador percebe que ela está perdida, deitando o Rei sobre o tabuleiro.

Quando se toma uma decisão financeira perdedora, é necessário reconhecer e sair da posição. É melhor aceitar o prejuízo do que continuar insistindo no que não deu certo. E isso vale para tudo: um negócio, um investimento inadequado, um imóvel que está dando prejuízo. Para isso, é preciso ter discernimento para saber diferenciar o que é oscilação de mercado – ou seja, um mau momento temporário de algum investimento – de algo que realmente se provou malsucedido.

 

Rejane Tamoto é planejadora financeira CFP®, jornalista e sócia da FIDUC. Voluntária na Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros-, tem como missão transformar positivamente a vida financeira das pessoas e contribuir para o crescimento dessa profissão no país.

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6 tendências para o novo normal nas finanças pessoais

Sempre há algum aprendizado a extrair de experiências, por mais duras que elas sejam. Nesse ano que termina, foi necessário aprender rapidamente a praticar as lições que os manuais de finanças sempre ensinaram, entender a importância de saber para onde o dinheiro ia, de poupar para se proteger das incertezas… Enfim, de aprender a corrigir as rotas, revisar planos, rever necessidades e valores.

Na hora de olhar para frente, penso que se houver um novo normal na forma como olhamos para as finanças pessoais, seis tendências podem ter chegado para ficar.

 

1- A emergência é real, reserva é necessidade

O ser humano tem a tendência de achar que o imprevisto não acontece com ele, só com o vizinho. A pandemia fez de profissionais autônomos, empreendedores a empregados com carteira assinada verem o salário diminuir. Isso foi menos assustador para quem tinha uma reserva de emergência, que deve ser usada exatamente em momentos como esses.

Quem tinha reserva conseguiu elaborar estratégias para preservá-la. Uma cliente decidiu oferecer descontos especiais na pandemia e logo viu a renda subir novamente. Muitos outros, que acompanho de perto, revisaram o orçamento e descobriram que podiam viver com menos. Comento mais sobre estratégias para a reserva em artigo publicado na coluna da Planejar na Época Negócios, que também foi selecionado para representar o Brasil no site do Financial Planning Standard Boards – entidade responsável pela certificação CFP® no mundo.

2- Recompor a reserva para pular qualquer onda

Antes de viver esse ano excepcional, era comum ver pessoas que demoravam a recompor a reserva mesmo quando a utilizavam de forma programada – como o período de férias para quem é autônomo, por exemplo.

Esse é um comportamento que está mudando e tende a mudar, diante da possibilidade de outras ondas ou mesmo de outros eventos como a pandemia acontecerem. Então a lição de recompor a reserva usada também veio para ficar.

3- Usar o lado frio da cabeça ao analisar seus investimentos

Esse parece ser o aprendizado mais difícil, porque dinheiro é emoção, e quando está investido então, nem se fala. Em outubro, quando a pandemia completava por aqui oito meses, um cliente perguntava angustiado se só a carteira dele não tinha se recuperado totalmente das quedas de março. Eu respondi que as carteiras que têm uma parcela de investimentos em ações e outros ativos que oscilam também estavam em processo de recuperação, mas que ela não havia chegado totalmente.

Naquele momento quem tinha um resultado positivo no acumulado do ano foi quem decidiu diversificar em fundos ações e multimercados bem no mês em que tivemos quatro circuit breakers. Essas pessoas usaram o lado frio da cabeça para tomar essa decisão, não se deixando levar pelo pânico daquele momento de queda livre.

Foram muitas as conversas para ajudar as pessoas a racionalizar a experiência daquele mês e protegê-las de perdas reais. Esse é um aprendizado importante e que deve ser exercitado também quando o mercado vai bem, momento em que é comum ver pessoas mais dispostas a investir em aplicações mais arriscadas.

Nesse caso, é preciso fugir da tentação de aumentar a parcela em investimentos mais arriscados por causa do momento bom. É uma lição que deve ser levada para todos os anos.

4- Foco no que você pode controlar traz felicidade

O mercado vai recuperar? E se cair de novo? Quando todos serão vacinados? E a economia? São muitas as dúvidas que esse grande evento deixou, algumas difíceis de prever. Tudo isso gera ansiedade e nos tira do foco principal, que é cuidar do dinheiro para ter paz.

Controlar as despesas pode ser trabalhoso, pois requer anotações, categorização, organização. Mas quem fez essa lição conseguiu descobrir que gastava com o que não precisava, e deixava de gastar com o que traz felicidade. E isso, a forma como emprega os recursos, é o que realmente você pode controlar.

A boa e velha planilha foi muito importante para muitas pessoas anteverem como ficaria a vida com possíveis quedas de renda. Ajudou outras a poupar mais. O controle ajudou a deixar a cabeça menos preocupada com o que podia acontecer na vida financeira. E mais livre para pensar em oportunidades de gerar renda extra ou de se reinventar.

5- Proteger faz parte do jogo

Falar sobre morte é um tabu, quase ninguém gosta. E de dinheiro também. A conversa sobre o que pode acontecer economicamente com os dependentes em caso de falecimento nunca foi fácil. Há quem já feche a cara só de ouvir a palavra “seguro”.

No entanto, a Covid-19 tornou esse assunto quase inevitável. Dados da Susep mostraram que o faturamento com a venda de seguros de vida cresceu quase 12% de janeiro a setembro. A pandemia nos lembra que os seguros podem garantir a nossa proteção e a dos dependentes.

Seguros podem proporcionar um certo conforto em casos de invalidez ou de tratamentos para uma doença grave. Há também coberturas que repõem a renda de profissionais autônomos ou liberais em caso de doença que impossibilite o trabalho. Gestão de risco entrou para a conversa de forma mais recorrente.

6- Contra o isolamento financeiro, serviços profissionais

Em um ano em que os juros reais estão negativos e a inflação termina o período bem pressionada, só nos resta diversificar os investimentos para obter resultados melhores. Em 2020, o maior risco foi o de ficar parado em alguma aplicação sem oscilação nenhuma e não repor o poder de compra do dinheiro. Também foi o ano em que vi muitas pessoas buscando informações na internet sobre qual aplicação seria a próxima bola da vez.

É um cenário de investimento mais complexo e que exige gestão profissional e diversificação. Investir bem requer o conhecimento específico, e um trabalho prévio bem feito no sentido de definir objetivos e prazos para o investimento, dentro do perfil de risco de cada um. Buscar serviços profissionais nunca foi tão importante como agora.

O serviço de planejamento financeiro destacou-se para ajudar a evitar perdas, aumentar os ganhos e, principalmente, voltar a ter uma perspectiva. Nada melhor do que atravessar um momento ruim, com foco em um plano. E 2021 começará com esse equilíbrio entre viver o presente, sem deixar de lado o nosso futuro, que também depende de nós.

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Há parasita em suas finanças?

Parasita, vencedor do melhor filme do Oscar 2020

Parasita é um organismo que vive em outro organismo (hospedeiro), dele retirando seu alimento e geralmente causando-lhe dano, segundo a definição do dicionário. Também é o nome do filme coreano que levou 4 estatuetas do Oscar neste ano. As relações com o dinheiro e, principalmente, entre classes sociais extremas, são a linha condutora da história, que mistura comédia, drama e terror.


Confesso que assisti a primeira metade torcendo para que ali houvesse um planejador financeiro para conduzir a família Ki-Taek. Um dos integrantes até pensa em fazer um pequeno plano financeiro para ingressar em uma universidade, mas o filme começa a revelar uma surpresa atrás da outra. E mostra que, no fundo, o buraco dos conflitos financeiros é mais embaixo. Mas a palavra parasita não saiu da minha cabeça no último mês e depois da premiação.


Quando olho para a vida financeira de indivíduos e famílias, que afirmam ter muita dificuldade para alcançar objetivos, é comum identificar os parasitas responsáveis por tais dificuldades.

Cheque especial

O mais faminto deles são os juros do cheque especial. A pessoa que usa o limite do cheque especial com frequência se alimenta dele, mas na verdade ele se alimenta em volume muito maior da pessoa que o utiliza.


É um parasita e tanto. “Ah, mas os juros baixaram por causa de uma medida do Banco Central.” É verdade, mas esses juros continuam elevados. Quem vive usando o cheque especial vive acima da capacidade e, com o tempo, passa a dever muito mais o que ganha.

Juros do rotativo

O parasita irmão do cheque especial é o rotativo – que são os juros do pagamento mínimo da fatura do cartão de crédito. Uma vez que ele se instala na sua fatura, você deve tomar medidas rápidas para desalojá-lo, sob o risco de ter uma dívida do tamanho de uma bola de neve.

Taxas e mais taxas

Existem também os parasitas pequenininhos, que aparentemente são inofensivos e que naturalmente estão no nosso sistema. É o caso das taxas que se instalam na conta bancária, na fatura do cartão de crédito e até nos seus investimentos.


São aquelas taxas elevadas e mensalidades de serviços que você às vezes nem usa e comem um pedaço dos seus ganhos todo mês. É um parasita que atrapalha a sua capacidade de poupança e a possibilidade de investir mais para realizar seus projetos.


Há remédios para combater esses parasitas, mas é recomendável obter o receituário médico do especialista em saúde financeira: o seu planejador financeiro.

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E se Marie Kondo abrisse o armário da sua vida financeira?

A forma como lidamos com nossas finanças é mais parecida com o nosso comportamento em relação aos armários da nossa casa do que imaginamos.

Talvez por ser mulher, ter descendência japonesa ou mania de organização, encontro sempre alguma dica aplicada às finanças nos episódios de Ordem na Casa com Marie Kondo, cuja primeira temporada está disponível na Netflix.

Para quem não conhece, na série de apenas oito episódios, a japonesa especialista no assunto aplica um método próprio de organização na casa de pessoas em diferentes momentos de vida.

Em comum, a maioria dos candidatos a receber o método estão em fase de transição: recém-casados, morando em uma nova cidade, viúvos, recém-aposentados, à espera do primeiro ou de mais filhos e quem não mora mais com filhos.

Marie conta que seu método, o KonMari, tem como diferencial organizar uma casa por categorias e não por áreas. A primeira categoria a ser colocada em ordem é a de roupa, seguida por livros, papéis, itens variados (de banheiro, cozinha e garagem) e, por último, os itens de valor sentimental.

Mais interessante que o método é como ela conduz cada participante a atravessar essa difícil jornada emocional que é organizar aquilo que sempre escondemos dentro de casa. É aí que encontrei um paralelo com o planejamento financeiro.

O ato de tirar tudo do lugar para escolher o que fica e o que sai pega em cheio as emoções das pessoas, assim como acontece na hora abrir os extratos e separar os gastos por categoria (moradia, alimentação, transporte, lazer, saúde, previdência etc), para então decidir o que fica e o que sai.

Podemos concluir que é tão difícil desapegar de objetos quanto de hábitos financeiros.

ROUPAS E GASTOS: FIQUE SÓ COM OS QUE SERVEM

No método da japonesa, ela orienta que as pessoas toquem cada uma das peças de roupa e fiquem só com aquelas que realmente trazem um sentimento de felicidade.

No planejamento financeiro, fica a dica de “Marie-Rejane”: olhe para cada linha de despesa e se pergunte se isso realmente te faz bem ou se você gasta porque não teve tempo de fazer diferente / porque estava estressado no dia / ou se já está há um tempão precisando cancelar, mas sempre esquece.

A verdade é que, se você procurar, verá que não usa tudo (incluindo objetos) que tem nos armários de casa. O mesmo acontece com os gastos.

Usando o jargão das finanças comportamentais, armários e orçamentos ficam assim por causa de um viés chamado status quo – o nome até é pomposo, mas pode ser nocivo: trata-se do comportamento de deixar tudo como está e evitar mudar as coisas de lugar. É o famoso “está bom do jeito que está”.

LIVROS, PAPÉIS E INVESTIMENTOS: PENSE NO QUE QUER PARA SEU FUTURO AO ESCOLHÊ-LOS

Outro item que se acumula em gavetas, armários, estantes e prateleiras na casa das pessoas são livros e papéis diversos (cartões, documentos importantes e até aqueles que estão lá para recordação).

Marie Kondo orienta a fazer uma montanha deles, dar um tapinha para acordá-los e, ao pegar cada um, se perguntar se refletem os seus valores e quais benefícios você acha que podem trazer ao seu futuro.

O comportamento com livros pode se repetir diante de aplicações financeiras. É comum encontrar pessoas que investiram o dinheiro em aplicações financeiras que não fazem sentido para o que elas desejam para elas no futuro. Fica a reflexão.

COMO ESSAS SITUAÇÕES FAVORECEM SENTIMENTOS DE UNIÃO,  DOAÇÃO E ACEITAÇÃO

Assim como no processo de organização de um lar, no qual flagramos os participantes frustrados por não conseguirem desapegar de objetos, também é comum que, numa família ou no casal, alguém paralise enquanto organiza a vida financeira.

Marie diz que este momento é uma oportunidade de um ajudar o outro e de descobrir se todos compartilham dos mesmos valores. Arrumar a casa e a vida financeira fortalece esses laços invisíveis.

Em famílias com muitas crianças pequenas, a organizadora recomenda que elas sejam integradas ao processo e sejam chamadas a brincar de dobrar roupas e guardar objetos.

 No planejamento financeiro, a brincadeira é criar um jogo ou competição para que guardem moedas no cofrinho, protegendo-o, para no final obter um grande prêmio.

O resultado da organização é que casas antes entulhadas ficam lindas e cheias de caixas, lotadas de objetos que podem ir para a doação de alguma causa que a pessoa apoia.

Outra alternativa que Marie não explora é a possibilidade de vender objetos que estão novos e nunca foram usados. Com o dinheiro da venda, compre algo que precisa e invista o restante.

Muitas vezes a pessoa se sente culpada por nunca ter usado uma roupa ou objeto e não consegue se desfazer por isso.

Para diminuir esse sentimento de culpa, o método da japonesa recomenda um agradecimento a todos os itens antes que eles sejam descartados. Agradeça por eles terem ensinado a você que eles não fazem mais parte do seu estilo.

O fim de todo episódio mostra o sentimento de satisfação dos residentes de cada casa com o espaço livre e bonito que ganharam depois de todas as dificuldades.

 No fim de um processo de planejamento financeiro, o sentimento é muito parecido: a satisfação de ter liberdade financeira para viver bem hoje e, ao mesmo tempo, saber que é capaz de realizar amanhã sonhos que até então estavam guardados em gavetas esquecidas.

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O que Game of Thrones tem a ensinar sobre planejamento financeiro

Reserva de emergência, investimentos de longo prazo e gestão de dívidas. O que aprender a fazer e a evitar com as três mais poderosas casas da trama

 A série de maior sucesso de todos os tempos da HBO não se resume a dragões, caminhantes brancos, estratégias políticas, guerras, romance e valores morais.

Ao longo de oito temporadas, GoT também trouxe importantes reflexões sobre planejamento financeiro. Como esse é meu clube, não pude deixar de prestar atenção em algumas práticas e filosofias que são úteis para todos nós, e também nas falhas nessa área cometidas por cada uma das casas.

ATENÇÃO: não se preocupe com os spoilers, mas sim em como as dicas a seguir podem mudar seu olhar sobre suas finanças

TENHA UMA RESERVA DE EMERGÊNCIA TÃO FORTE QUANTO A DA CASA STARK

A tradicional e mais poderosa família do Norte de Westeros tem experiência em atravessar longos e tenebrosos invernos. Sob o bordão “o inverno está chegando”, está sempre acumulando estoques de comida para esses períodos.

No planejamento financeiro, é o que chamamos de reserva de emergência ou colchão de segurança. É o dinheiro que você tem à mão para imprevistos, mas também durante períodos programados de poucos ganhos (para quem é autônomo).

Apesar de todas as perdas da família, nesta última temporada ela mostrou o quanto sua reserva de emergência estava robusta, capaz de alimentar ao menos quatro exércitos (Norte, Imaculados, Dothrakis, Selvagens) e dois dragões, que apareceram por lá antes da batalha da Longa Noite.


O que não fazer como os Stark: desde a morte do patriarca, a família entrou em uma espiral de perdas que no final fortaleceram os sobreviventes. O principal erro que a família cometeu foi o de deixar a emoção tomar o controle e não cumprir a promessa de casamento de Robb com a filha de Walder Frey. Apesar de ser forte em reserva de emergência, os Stark não tinham um bom plano de sucessão – um plano B mesmo para o caso de morte dos sucessores-chave.

PAGUE SUAS DÍVIDAS EM DIA, COMO A CASA LANNISTER

Eis uma casa que chegou ao poder e nunca mais saiu porque tem uma relação muito boa com o banco de Braavos. “Um Lannister sempre paga as suas dívidas”. Com esse bordão, sempre teve acesso fácil ao crédito do banco central para investir em um reinado forte.

Além disso, aliou-se a casas com bastante ativos, como ampla oferta de alimentos e soldados. No planejamento financeiro, recomendamos que dívidas devem ser estratégicas, de preferência em ativos que geram retorno, e pagas em dia.

O problema da família foi justamente sua ganância e sede infinita de poder, que a fez também ser a vilã da série. O que não fazer como a casa Lannister é justamente não querer tudo, indiscriminadamente, sem oferecer nada em troca.

As atitudes do patriarca e de Cersei Lannyster não consideraram as reações. O grande declínio da família foi a perda não só do patriarca, mas de todos os sucessores do trono, fruto do acúmulo de inimigos que Cersei construiu. Ela pode até permanecer no poder, mas sem a maior riqueza da vida dela: os filhos. Será feliz assim?

FAÇA INVESTIMENTOS DE LONGO PRAZO, COMO A CASA TARGARYEN

Danaerys Targaryen, até então a única representante de uma casa aniquilada antes mesmo do início da série, começou do nada.

Foi exilada, estuprada, perdeu o bebê e o marido no mesmo dia e é a representação da Fênix da trama: um belo dia saiu das cinzas com três pequenos dragões.

É a parte fantasiosa de GOT, mas não deixa de mostrar a importância da visão de longo prazo.

A personagem investiu na criação dos dragões e angariou pessoas não só com a força do fogo, mas com o poder do discurso e do senso de propósito.

Conquistou exércitos e seguidores para atingir o grande objetivo de vida: tomar o trono de ferro que pertence a ela.

No planejamento financeiro, a lição da personagem é justamente fazer um investimento de longo prazo e seguir um plano, implementando-o de forma gradual e consistente, não importa se no caminho houver obstáculos.

Outra boa prática foi ouvir conselheiros para não deixar as emoções atrapalharem suas decisões. Vamos ver se isso se sustenta no fim dessa temporada!

O que não fazer como a personagem: ela tinha nas mãos investimentos de alto retorno, criaturas capazes de destruir exércitos inteiros de uma vez. E teve altas perdas por não ter feito uma boa gestão de risco. Faltou à Danaerys um seguro para proteger os seus dragões – é claro que não é aquele das seguradoras! – mas uma estratégia de proteção contra armas letais, pois apesar de parecerem, eles não são invencíveis.

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PREVIDÊNCIA e as meias verdades que impedem você de garantir o seu futuro

Sobram informações sobre finanças pessoais e investimentos nas redes e cada vez mais será assim. Isso é bom porque mostra que o brasileiro quer ser o protagonista da própria vida financeira.

O engraçado é que, quanto mais informação circula, mais vejo gente perdida sobre o que fazer com aquele recurso que está parado na caderneta de poupança ou mesmo na conta corrente.

Razões não faltam, já que sobre um mesmo produto financeiro há chances de encontrar informações bem diferentes. Eu, que escrevia matérias sobre o assunto, sempre comparei essas nuances nas minhas pesquisas.

Na tentativa de simplificar tudo, alguns conteúdos rápidos deixam na cabeça das pessoas o que chamo de meias verdades. Uma comum é essa:

“Fundo de previdência privada é sempre cilada”

Espero que esse texto traga mais esclarecimentos do que dúvidas e ajude você a tomar decisões boas para o seu caso.

Como eu sempre digo: em finanças, para cada caso há uma recomendação.

Já li muito por aí que colocar dinheiro em fundo de previdência privada é cilada. Porque isso é uma meia verdade? Porque depende de uma série de fatores. Vamos a cada um deles.

Pode ser uma verdade completa se o fundo tiver uma gestão de ruim para péssima (como costumo ver em alguns bancos!) e um custo alto. Ou seja, uma péssima combinação.

Em muitos casos, quem tem um fundo de previdência assim fez a aplicação por recomendação do gerente do banco, que provavelmente estava precisando cumprir uma meta. Então, a má fama do fundo de previdência privada pode ser creditada ao vendedor e não ao produto.

ATENÇÃO AO OBJETIVO

A aplicação em um fundo de previdência privada dependerá do seu objetivo.

É verdade que é uma cilada se você recebeu uma rescisão e colocou tudo em um fundo de previdência. Também é uma cilada para quem investiu neste produto, mas não constituiu uma reserva de emergência, que é aquele recurso de fácil resgate para imprevistos ou para quem queria apenas investir para trocar de carro ou de imóvel nos próximos anos. Em ambos os casos, na hora do resgate poderá pagar uma alta alíquota de Imposto de Renda. Cilada, né?

Percebeu como o objetivo faz toda a diferença na escolha de um investimento? Lembre-se sempre: fundo de previdência não tem esse nome à toa.  

Não é nem meia verdade, mas é mentira que fundo de previdência é uma cilada para quem está querendo criar uma reserva financeira para curtir e viver bem a sua longevidade.

Por que é mentira que fundos de previdência privada sempre são uma cilada?

VERDADES VERDADEIRAS

Porque fundos de previdência têm vantagens únicas. Se o objetivo é poupar para ter independência financeira na aposentadoria, só em um fundo de previdência você pode escolher pagar apenas 10% de alíquota de Imposto de Renda. É a MENOR que existe, imbatível.

Melhor do que isso, só aplicações financeiras isentas – a diferença é que elas não terão a diversificação (lembra de nunca colocar os ovos na mesma cesta?) feita por uma gestão profissional, que só pode existir dentro de um fundo de previdência privada.

Gestão é muito importante para a geração de retorno, pois proporciona uma combinação de investimentos de longo prazo com alocações táticas para aproveitar bons momentos de mercado.

Fundo de previdência privada pode ser parte de uma estratégia de sucessão. O recurso pode ter como beneficiários os seus dependentes, facilitando todo o processo comum de inventário. Em alguns estados, a parcela em fundo de previdência privada não entra em inventário, o que reduz o CUSTO da sucessão.

Em um fundo de previdência existe a possibilidade de diversificar seus investimentos de longo prazo sem pagar o come-cotas, que é aquele adiantamento de 15% do Imposto de Renda que o governo debita automaticamente dos fundos de investimentos em maio e em novembro.

GESTÃO, GESTÃO E GESTÃO

Investir não é fácil mesmo. Mas um bom investimento começa quando se sabe no que aquele dinheiro será usado no futuro. E, o mais importante, quando você precisará resgatá-lo.

Eu acredito que maiores serão as chances de acerto se os seus investimentos tiverem uma gestão profissional. Em outras palavras, em vez de comprar Tesouro IPCA, CDB, LCI, ações das empresas A, B ou C, entre outros, pode deixar que alguém faça isso por você, e isso é o que os fundos fazem.

Só que isso tem um custo. E aqui entra outra meia verdade: “a de que todo fundo é ruim porque tem taxa de administração.”

É meia verdade porque isso não vale para todos os fundos. Como eu disse no começo desse artigo, pode ser verdade completa se a gestão for medíocre. Mas é uma afirmação que não faz sentido se o fundo tem uma gestão profissional que consegue entregar proteção e retorno em bons e em maus momentos de mercado, na comparação com o que você faria sozinho. Você acha que, mesmo assim, não vale a pena pagar uma taxa de administração?

FAÇA AS CONTAS

Nessa hora, é preciso recorrer à matemática para saber se faz sentido ter todo o trabalho de diversificar e cuidar sozinho dos investimentos de longo prazo. Ou saber se o pagamento da taxa de administração faz sentido porque você está delegando o serviço de escolher suas aplicações para outra pessoa que dedica inteiramente seu tempo para isso. 

Não sou gestora, e sim planejadora financeira CFP®. Meu papel é discutir sobre os objetivos e prazos dos clientes, e ajudá-los a dimensionar todos os lados da sua própria verdade. Assim, conseguem tomar uma boa decisão para si.

Meu trabalho é calcular o valor necessário para a independência financeira na longevidade e descobrir qual é o valor que pode ser investido todo mês para realizar não só esse plano de uma aposentadoria feliz em algumas décadas, mas também os de médio e curto prazos.

É um processo que passa por cálculos para encontrar a rentabilidade real, mas também pelo comportamental e pelo estilo de vida do cliente.

Dá para considerar todos esses fatores sem apoio de um planejador financeiro? Pode ser, mas não será tão fácil, já que temos a tendência de simplificar essa avaliação para tomar uma decisão que nos tire da inércia. 

Está comprovado que é conversando que chegamos às melhores conclusões sobre escolhas que podemos fazer para a nossa vida.

Está cansado de ficar estacionado em cima de meias verdades? Então vamos conversar.

Rejane Tamoto é planejadora financeira CFP® e Sócia da FIDUC Planejamento Financeiro.

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